ZERO HORA 21 de setembro de 2008
ESTILO PRÓPRIO
Esses locais de encontro e de gastronomia que a coluna mostra seguem uma tendência: tornar bares e restaurantes ambientes mais personalizados. A proposta é de uma clientela de amigos. No blog zerohora.com/blogdafernanda veja fotos exclusivasAo ler estas páginas você vai conhecer a história de três lugares apetitosos e exclusivos em Porto Alegre. A coluna apresenta esses locais que se enquadram na categoria da exclusividade não pelo luxo, mas pelo público muito bem selecionado. Em alguns casos, não entra quem quer. Só entra quem o dono do estabelecimento quiser. A seleção não é capricho de estilo ou estratégia de marketing. É o próprio conceito das casas que nasceram sonhando em manter o clima dos dias da abertura: entram os amigos, ou os amigos dos amigos, ou os conhecidos dos amigos. É assim que se forma uma clientela fiel, aquela que remete a um ambiente familiar, com freqüentadores que se conhecem. Tudo, garantem os criadores, é para que o cliente sinta-se em casa. Por isso, os lugares são montados justamente na residência dos proprietários.Nesses bares (seriam restaurantes, bistrôs ou espaços de convivência personalizados?), eles – os donos – são fundamentais. São eles que administram, cozinham, servem, recebem – são a cara do negócio.Estilo Próprio conta as histórias e retrata os ambientes, mas não entrega todos os segredos desses bares-restaurantes-com-cara-de-casa. Manter o mistério sobre os endereços e, até mesmo sobre a identidade do dono, é parte fundamental do negócio. E ninguém quer melar o sucesso dos empresários da originalidade.ABRINDO A INTIMIDADELuciano Lópes está prestes a se formar em Gastronomia e já tem emprego: é chef e dono do restaurante que montou em casa. Há duas semanas, colocou em obras a área externa dos fundos. A churrasqueira ganhou mesa, jardim e balcão para que possa cozinhar na frente dos clientes. A obra só não inclui banheiro:– É para usarem o da minha casa, o lavabo. Faz parte da proposta – diz.A reforma também não inclui uma entrada exclusiva para a churrasqueira (melhor chamar de bistrô). Luciano, ou Fanos, como foi apelidado nos tempos do colégio, quer que o “cliente” entre pela sua casa. Até porque foi exatamente assim que o negócio nasceu.Luciano, 29 anos, gostava de cozinhar para os amigos. Era o assador oficial. Aos poucos foi se profissionalizando, incrementando a variedade de cortes, os complementos e os aperitivos. Os churrascos ficaram tão elaborados que passou a cobrar.– Pagava as contas e não sobrava nada.Quatro faculdades incompletas depois (Veterinária, Administração, Economia e Psicologia), ele encontrou o seu rumo.– Comecei cozinhando em casa, pensando inicialmente em treinar e escalava umas cobaias. Mas notei que o pessoal gostava, e eu mais ainda.Luciano recebe desde um casal até no máximo 15 pessoas por jantar. Por meio do blog do chef, o cliente pode encomendar o cardápio de sua preferência, mas é preciso fazer reserva:– Tenho quase todos os dias da semana lotados.UM LOCAL SÓ DE AMIGOSGerti, retratada na foto, é autora de uma curiosa receita de pão de cerveja. O quitute e alguns acepipes dispostos em um balcão são os acompanhamentos que a casa dispõe para as 150 variedades de cerveja que oferece. Gerti é a mulher do proprietário. Ele, o mentor, não aparece e se nega a ser fotografado. Também não divulga o endereço do seu Bier Keller, o porão da cerveja. Na casa, em que o sommelier de cerveja montou o que chama de bar perfeito, há detalhes inspirados na experiência de quem trabalhou numa multinacional e era gerente de vendas (adivinhe?) de uma cervejaria.– Aqui consegui colocar o cliente atrás do balcão – conta o empresário que, para quem busca informações, mente o nome.Ao atender o telefone, se alguém pergunta: “É um bar?”, ele não titubeia em negar e desligar. O dono zeloso não gosta de chamá-lo de bar, prefere “um local de amigos”. Montou o “local” numa casa que foi um armazém. Reformou sozinho e decorou com relíquias, luminosos antigos e raros de cerveja e uma jukebox dos anos 50. A porta da casa tem uma pequena abertura. O dono abre a janelinha para identificar o visitante. Só entra quem ele conhece. No Bier Keller é o cliente que se serve, pega o copo, lava-o, corta o pão e controla a conta.– Já passou gente de todo o mundo por aqui – conta orgulhoso. – Os estrangeiros ficam muito impressionados, dizem que não existe um lugar como este.ALMOÇO NA CASA JOÃO DE BARRONa Casa João de Barro, os donos trabalham e se divertem dois domingos por mês. Márcia e Marco Aurélio Bomfiglio e Takaco Onuki recebem para o almoço no segundo e no quarto domingo de cada mês numa casa, com área externa sob uma parreira, na Vila Nova, em Porto Alegre. A casa foi montada como uma residência de fim de semana do casal. Até que eles se aposentaram, assim como a amiga e sócia do negócio anterior, uma clínica geriátrica– Gostávamos de receber, fazíamos sempre as festas da clínica – lembra.Os almoços entre amigos cresceram e se tornaram profissionais, para quase 80 pessoas. Entram quem eles não conhecem, mas é sempre um amigo de um amigo que chega por indicação. Em datas especiais como Dia das Mães, Dia dos Pais e perto do fim de ano, é preciso reservar com bastante antecedência.– Quem vem aqui gosta de um ambiente rústico, sem sofisticação. A natureza é a sofisticação – conta Márcia.Quem vai à casa João de Barro vai pelo clima dos amigos, vai pela comida, simples e saborosa, e vai também pela música. Os almoços são oferecidos no início da tarde e duram o dia inteiro. Músicos e cantores tradicionais, como Plauto Cruz, Paulo Pinheiro e Ivone Pacheco, são convidados para as canjas dominicais.– E uma brincadeira que dá trabalho, receber toda essa gente, mas também nos dá muito prazer – explica Marco Aurélio.POR FERNANDA ZAFFARI
ESTILO PRÓPRIO
Esses locais de encontro e de gastronomia que a coluna mostra seguem uma tendência: tornar bares e restaurantes ambientes mais personalizados. A proposta é de uma clientela de amigos. No blog zerohora.com/blogdafernanda veja fotos exclusivasAo ler estas páginas você vai conhecer a história de três lugares apetitosos e exclusivos em Porto Alegre. A coluna apresenta esses locais que se enquadram na categoria da exclusividade não pelo luxo, mas pelo público muito bem selecionado. Em alguns casos, não entra quem quer. Só entra quem o dono do estabelecimento quiser. A seleção não é capricho de estilo ou estratégia de marketing. É o próprio conceito das casas que nasceram sonhando em manter o clima dos dias da abertura: entram os amigos, ou os amigos dos amigos, ou os conhecidos dos amigos. É assim que se forma uma clientela fiel, aquela que remete a um ambiente familiar, com freqüentadores que se conhecem. Tudo, garantem os criadores, é para que o cliente sinta-se em casa. Por isso, os lugares são montados justamente na residência dos proprietários.Nesses bares (seriam restaurantes, bistrôs ou espaços de convivência personalizados?), eles – os donos – são fundamentais. São eles que administram, cozinham, servem, recebem – são a cara do negócio.Estilo Próprio conta as histórias e retrata os ambientes, mas não entrega todos os segredos desses bares-restaurantes-com-cara-de-casa. Manter o mistério sobre os endereços e, até mesmo sobre a identidade do dono, é parte fundamental do negócio. E ninguém quer melar o sucesso dos empresários da originalidade.ABRINDO A INTIMIDADELuciano Lópes está prestes a se formar em Gastronomia e já tem emprego: é chef e dono do restaurante que montou em casa. Há duas semanas, colocou em obras a área externa dos fundos. A churrasqueira ganhou mesa, jardim e balcão para que possa cozinhar na frente dos clientes. A obra só não inclui banheiro:– É para usarem o da minha casa, o lavabo. Faz parte da proposta – diz.A reforma também não inclui uma entrada exclusiva para a churrasqueira (melhor chamar de bistrô). Luciano, ou Fanos, como foi apelidado nos tempos do colégio, quer que o “cliente” entre pela sua casa. Até porque foi exatamente assim que o negócio nasceu.Luciano, 29 anos, gostava de cozinhar para os amigos. Era o assador oficial. Aos poucos foi se profissionalizando, incrementando a variedade de cortes, os complementos e os aperitivos. Os churrascos ficaram tão elaborados que passou a cobrar.– Pagava as contas e não sobrava nada.Quatro faculdades incompletas depois (Veterinária, Administração, Economia e Psicologia), ele encontrou o seu rumo.– Comecei cozinhando em casa, pensando inicialmente em treinar e escalava umas cobaias. Mas notei que o pessoal gostava, e eu mais ainda.Luciano recebe desde um casal até no máximo 15 pessoas por jantar. Por meio do blog do chef, o cliente pode encomendar o cardápio de sua preferência, mas é preciso fazer reserva:– Tenho quase todos os dias da semana lotados.UM LOCAL SÓ DE AMIGOSGerti, retratada na foto, é autora de uma curiosa receita de pão de cerveja. O quitute e alguns acepipes dispostos em um balcão são os acompanhamentos que a casa dispõe para as 150 variedades de cerveja que oferece. Gerti é a mulher do proprietário. Ele, o mentor, não aparece e se nega a ser fotografado. Também não divulga o endereço do seu Bier Keller, o porão da cerveja. Na casa, em que o sommelier de cerveja montou o que chama de bar perfeito, há detalhes inspirados na experiência de quem trabalhou numa multinacional e era gerente de vendas (adivinhe?) de uma cervejaria.– Aqui consegui colocar o cliente atrás do balcão – conta o empresário que, para quem busca informações, mente o nome.Ao atender o telefone, se alguém pergunta: “É um bar?”, ele não titubeia em negar e desligar. O dono zeloso não gosta de chamá-lo de bar, prefere “um local de amigos”. Montou o “local” numa casa que foi um armazém. Reformou sozinho e decorou com relíquias, luminosos antigos e raros de cerveja e uma jukebox dos anos 50. A porta da casa tem uma pequena abertura. O dono abre a janelinha para identificar o visitante. Só entra quem ele conhece. No Bier Keller é o cliente que se serve, pega o copo, lava-o, corta o pão e controla a conta.– Já passou gente de todo o mundo por aqui – conta orgulhoso. – Os estrangeiros ficam muito impressionados, dizem que não existe um lugar como este.ALMOÇO NA CASA JOÃO DE BARRONa Casa João de Barro, os donos trabalham e se divertem dois domingos por mês. Márcia e Marco Aurélio Bomfiglio e Takaco Onuki recebem para o almoço no segundo e no quarto domingo de cada mês numa casa, com área externa sob uma parreira, na Vila Nova, em Porto Alegre. A casa foi montada como uma residência de fim de semana do casal. Até que eles se aposentaram, assim como a amiga e sócia do negócio anterior, uma clínica geriátrica– Gostávamos de receber, fazíamos sempre as festas da clínica – lembra.Os almoços entre amigos cresceram e se tornaram profissionais, para quase 80 pessoas. Entram quem eles não conhecem, mas é sempre um amigo de um amigo que chega por indicação. Em datas especiais como Dia das Mães, Dia dos Pais e perto do fim de ano, é preciso reservar com bastante antecedência.– Quem vem aqui gosta de um ambiente rústico, sem sofisticação. A natureza é a sofisticação – conta Márcia.Quem vai à casa João de Barro vai pelo clima dos amigos, vai pela comida, simples e saborosa, e vai também pela música. Os almoços são oferecidos no início da tarde e duram o dia inteiro. Músicos e cantores tradicionais, como Plauto Cruz, Paulo Pinheiro e Ivone Pacheco, são convidados para as canjas dominicais.– E uma brincadeira que dá trabalho, receber toda essa gente, mas também nos dá muito prazer – explica Marco Aurélio.POR FERNANDA ZAFFARI
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